Cento e cinquenta milhões de crianças nascem todos os anos no mundo. Tantos bebês, inscritos numa família, numa linhagem, numa cultura e num futuro. Muito além da área médica da reprodução, o nascimento envolve todas as questões relacionadas com o ser humano. A história e a etnologia dizem o quanto as culturas sempre se preocupam com isso.
O progresso científico revolucionou a chegada dos bebês no mundo, inicialmente pelo processo de reprodução, contudo, não basta o domínio das técnicas. A psicanálise ensinou-nos como sendo este o momento fundador, é importante não considerar o recém0nascido como objeto de cuidado, mas sim como um sujeito. As crianças que nascem hoje serão os adultos de amanhã e a maneira como as acolhemos, tecnicamente, simbolicamente, emocionalmente, terá efeito sobre as gerações futuras.
Para lidarmos com as questões contemporâneas suscitadas pelos avanços científicos, como as evoluções da sociedade e os problemas demográficos, uma reflexão se impõe quanto aos efeitos das nossas práticas ocidentais modernas. A família tradicional transforma-se monoparental, homoparental, adoções e a medicina também: tecnologia reprodutiva, neonatologia, obstetrícia moderna, contribuindo para uma evolução rápida que muitas vezes nos surpreende pela velocidade das transformações que provocam.