O tema desse debate foi escolhido em virtude de minha experiência clínica de 5 anos em um CAPS, onde estamos sempre diante de questões referente a psiquiatria e a contemporaneidade, já que os sintomas dos sujeitos também se referem ao contexto social ao qual estamos todos inseridos.
Desde Freud, em seu texto O mal-estar na civilização de 1930 sabemos que o mal-estar é inerente a condição humana. Ele afirmou que há 3 fontes de sofrimentos inevitáveis que são: o nosso próprio corpo condenado à decadência; o mundo externo entendido como a natureza que volta-se contra nós com forças impiedosas; e os relacionamentos entre os homens. E afirma que:
Quando qualquer situação desejada pelo princípio do prazer se prolonga, ela produz tão-somente um sentimento de contentamento muito tênue. Somos feitos de modo a só podermos derivar prazer intenso de um contraste, e muito pouco de um determinado estado de coisas. Assim, nossas possibilidades de felicidade sempre são restringidas por nossa própria constituição.
Poderíamos até dizer que nossa era moderna começou verdadeiramente com a proclamação do direito universal à busca pela felicidade, nos diz Bauman. Se pensarmos na descrição do que ouvimos que é a felicidade, seria a plenitude, num estado permanente de satisfação plena, onde nada mais é necessário, ou seja, atinge-se o tudo. E no discurso que ouvimos constantemente na clínica, esse estado entra sempre como muito ambicionado.
No início do livro A Arte da Vida, Bauman questiona “o que há de errado com a felicidade?” E escreve que homens e mulheres na busca pela felicidade, estão se tornando ricos, (acrescento ou querendo ser/parecer ricos). E há um bem-estar atingido quando há um maior acesso aos bens de consumo e ao conforto até certo ponto, mas, na verdade, há uma distância entre a riqueza e a felicidade, porque quando as pessoas entram intensamente nessa busca de riqueza e acabam por fracassar em outras áreas essenciais que não possuem preço no valor de mercado, já que não há riqueza que as compre. Então, ter objetos de consumo é a promessa de felicidade.
A sociedade de consumo traz justamente uma promessa de uma felicidade absoluta e plena como algo possível, desde que permeado pelo consumismo dos objetos do mercado. Essa promessa quando buscada pelo sujeito, faz com que ele esteja cada vez mais insatisfeito, porque se ele alcançasse a satisfação, a roda do mercado pararia. Parece que justamente essa ideologia captura o que há de mais primitivo em nós “parletres”, que é o narcisismo primário e a suposta, destaco essa palavra, a “suposta” completude vivida enquanto bebês. Esse é o gozo do Outro, aquele gozo proibido pela lei do incesto que é estabelecido pela função paterna e ratificado pelo social quando este consegue sustentar os limites e a autoridade, bem como as diferenças.
Segundo Melman, “A sociedade do consumo é um convite permanente a ultrapassarem-se os limites da satisfação”. Então, as pessoas estão sempre em busca de um prazer maior e melhor, mais intenso e sem fim.
Lebrun afirmou que
Hoje, o objeto de consumo que nos é proposto cada vez mais rapidamente quer nos dar a ilusão, nos fazer pensar que justamente não se deve mais consentir nessa perda de limite, de gozo. Pelo contrário, diz que hoje devemos aproveitar o que se apresenta. Portanto, deveríamos banir de nosso trajeto a necessidade da perda. E eis aí algo que faz virar a cabeça de todo o mundo. É algo que nos atormenta profundamente e que me parece ser a mutação do vínculo social que enfrentamos hoje com uma série de consequências.
O discurso atual sustenta que nada é impossível. Se não é mais estabelecido que precisamos de perdas, justamente as perdas que sustentam nosso limite de não poder tudo, que sustentam nossas castrações, uma das consequências parece ser que o TUDO e o NADA se tornam o mesmo.
O que Lacan esclarece, ratificando o mal-estar estrutural apontado por Freud, é que há a impossibilidade do sujeito encontrar-se com o objeto de sua satisfação por sua condição humana de entrada em uma nova ordem, que é a ordem da linguagem. Ao ser retirado de sua natureza orgânica, ele passa a ser determinado a viver sempre o mal encontro entre o sujeito e o objeto, este sendo o que há de mais intercambiável, ou seja, entre ele e aquilo que lhe proporciona satisfação pulsional. Através da linguagem, o sujeito se defronta sempre com a representação do objeto e não com o objeto em si. Além de que nenhum objeto ou representação de objeto é capaz de fazê-lo atingir a plenitude, a completude que sempre foi e sempre será um engodo, que foi a vivência do gozo do Outro. Então não é possível que o objeto propicie a satisfação plena ao sujeito. Esse é o mal-estar estrutural do Sujeito, que deve suportar a falta para constituir-se desejante.
É aqui que entra a função paterna. O pai é aquele que apresenta o simbólico e sustenta essa impossibilidade de completude do sujeito com o objeto, funda a dívida simbólica do sujeito ao protegê-lo da deriva instaurada pela linguagem e pelo desejo materno que sempre ameaça de engolfar o sujeito e fazê-lo objeto. Isso que possibilita o acesso ao gozo fálico, um gozo permeado pelos significantes, no dizer da Julieta Jerusalinsky, que “ainda que o gozo escape dela (linguagem), ele pulsa na repetição da cadeia significante”.
Lacan desde 1936 anunciava o declínio da função social da imago paterna. E hoje vivemos uma tentativa cada vez maior do apagamento das diferenças, seja entre as gerações, seja entre os homens e as mulheres e outras. Com isso a função paterna tem sido desvalorizada, assim como todas as figuras que representam esse lugar de autoridade: os professores, os chefes, os policiais, os juízes, entre outros. Em nome de sujeitos mais autônomos e livres, impera a ausência de limites que eles representavam.
Nessa falta de limites, a busca pela felicidade engloba ser rico, famoso, jovem, saudável, bonito, ter uma vida sexual intensa e prazerosa e com tudo isso, ser feliz. Justamente o que é o contrário do que Freud apontou como as três fontes inevitáveis de sofrimento, o corpo não será para sempre jovem, saudável e bonito, a vida sexual intensa e prazerosa é limitado pelos percalços das relações humanas nunca simples e lineares. Ou seja, essa felicidade é enganosa.
Toda essa “liberdade” para gozar sem limite passa a ser uma promessa perversa da contemporaneidade, ao prometer a possibilidade do sujeito alcançar o gozo do Outro que lhe é proibido e impossível desde sempre.
Em consonância há um imperativo de felicidade, ou melhor, um imperativo do gozo vestido de felicidade, que traz uma cobrança social de bem-estar, alegria, euforia e satisfação, enquanto é proibido ficar triste, chorar, sofrer, não querer gozar, não querer comprar. Ou seja, há um imperativo social de felicidade, não permitindo tempo para pensar, elaborar luto, sofrer, como ouvimos em diversas musicas, “quem perdeu foi ele”, “a fila andou”, … ou falas de vamos na festa, vai ficar ai em casa chorando, como um “Loser”. O que mostra o quanto o outro do nosso convívio passa a ter o mesmo status dos objeto de consumo, que após utilizado é descartado. Lebrun afirma que “O homem contemporâneo não sabe o que é desejar, só sabe consumir”
É claro que esse contexto social causa um mal-estar diferenciado, Lebrun nos diz que o homem que chegava a Freud trazia a queixa de não saber orientar o seu desejo, mas hoje “o homem não sabe mais o que é desejar”.
A indústria farmacêutica não começou a oferecer remédios para a tristeza por acaso. Houve uma demanda social para lidar com esse mal-estar, ou seja, com os sintomas que incomodam o sujeito e impossibilitam-no de produzir, o que prejudica o sistema capitalista. Com toda essa possibilidade de felicidade, aos sujeitos que não a alcança pelo menos o bem-estar, ficam culpabilizados. A ideologia de nosso tempo é que todo e qualquer ser humano consegue fazer para alcançar o que quiser, basta querer e buscar, trabalhar para alcançar, por si mesmo encontrará as ferramentas e as formas já que é livre e autônomo.
O que esconde todo esse discurso é que as pessoas estão mais solitárias, isoladas e desamparadas. Nessa supremacia da imagem e da aparência de sucesso, há uma desvalorização do simbólico, daquilo que o próprio sujeito valoriza por sua história e por sua construção. Dufour fala de uma des-simbolização do mundo em nome do valor monetário que submetem os homens ao jogo da livre circulação de mercadorias. Os sujeitos estão desamparados simbolicamente e por isso que vivem e exaltam a liberdade e autonomia que é muito mais imaginária.
O saber objetivo universalizante da ciência nos diz o tempo todo verdades que se impõe de formas inquestionáveis. Subvertendo o próprio campo da ciência e o campo social (Mario Fleig). Nesse discurso da ciência, englobamos a psiquiatria com seus numerosos nomes para transtornos mentais e o grande avanço realizado em termos de farmacológicos. Essa ciência afirma que sabe o que é bom para o sujeito e distribuem receitas de comportamentos e de medicamentos para alcançar a cura de seus sintomas.
Dentro da lógica do imperativo da felicidade, as pessoas não podem ficar tristes, assim hoje qualquer tristeza é chamada de depressão, inclusive o luto pode ser considerado patológico se durar mais do que a ciência diz que é certo e esperado.
Encontramos os sujeitos que chegam encaminhados para uma escuta, já medicados para o seu mal-estar. Começam a falar de seus sintomas e do quanto querem que o medicamento resolva o que ele está sentindo. Quando questionados sobre algo que referencie esse sintoma a sua própria história, o sujeito se cala, nada sabe dizer disso que o aflige, nada quer saber e foge das perguntas, até porque pensar causa incomodo, angústia e mal-estar, os quais justamente ele não quer sentir. Melman afirma que nunca se pensou tão pouco, porque o pensamento vem pelos obstáculos. Mas hoje há evitação de conflitos. O que Lebrun concorda quando afirma que hoje o que organiza a sociedade é o evitamento de conflitos, porque “Assim, cada um pode gozar tranquilo, sozinho”. Entendendo que esse gozo sozinho é um gozo masturbatório, o gozo idiota. E a relação com o outro que pode ser prazerosa, pode estar atrelado ao gozo fálico, mas para existir a relação com o outro, é preciso tolerar a castração e a falta, as quais são evitadas.
A medicação não é boa ou ruim em si mesma, em alguns casos realmente tem um papel importante, até quando possibilitam o sujeito poder falar de si, o que é muito difícil em determinadas circunstâncias. Mas há uma preocupação do papel que ela faz na vida das pessoas, porque ela entra como se fosse a resposta para todos os problemas, numa exteriorização e terceirização do problema. Apagando ainda mais a história, a subjetividade e a implicação de cada um.
Atendi uma mulher, com sintomas depressivos. O que chamou muito a minha atenção nesse caso foi a apatia com a qual ela se mostrava, devido a seu sofrimento intenso e diversas internações psiquiátricas, ela estava com uma carga enorme de medicação, dormia o dia todo. Ela me disse que tinha alucinações, via bichos e outras coisas, por isso ela preferia dormir, apagar-se da vida para não se haver com seus sintomas, que não são só as alucinações. Após uma troca com a psiquiatra da equipe do CAPS, um pouco de sua medicação foi retirada e suas alucinações diminuíram, ela passou a ficar mais acordada durante o dia e encontrou nas sessões uma possibilidade de ser ouvida e passou a contar sua história, algo que parecia não fazer mais parte dela até aquele momento. Ela não é psicótica, mas era tratada como tal e hipermedicada, o que apenas agravava seus sintomas e seu sofrimento, levando a um apagamento, literal e simbólico.
A psicanálise compreende a importância do mal-estar e da angústia do sujeito, primeiro porque é estrutural e não há possibilidade de alcançar a felicidade plena e permanente (gozo do Outro). E, segundo, no próprio processo analítico precisamos nos angustiar para mudar, para sair do lugar até então ocupado, onde tem gozo, mas um gozo no sofrimento. A teoria nos diz isso e nossa própria experiência como analisandos nos faz sentir na pele, precisamos nos incomodar para se implicar e engajar-se verdadeiramente numa análise e na vida em nome do nosso desejo.
Hoje ao escutar novos pacientes, principalmente os medicados, precisamos enigmatizar o discurso e fazer perguntas que possibilitem o mito entrar no discurso, questões que impliquem os sintomas no mito. Durante muitas sessões, o mito não entra no discurso, como se a própria história do sujeito não fosse importante ou não lhe causasse questionamentos, ou ainda pior, como se nem lhe pertencesse.
As entrevistas iniciais são estendidas na tentativa de que o sujeito possibilite sua entrada no conflito e na angústia para então construir sua demanda de análise. Chegam com diversas queixas sem implicação do sujeito. Não são todos, mas há notavelmente um aumento de pessoas que chegam sem demandas claras ou com muitos sintomas dos quais o sujeito nada fala que o historicize, apenas sente e não se implica com ele. Parece que estamos cada dia mais diante de sujeitos em estados depressivos, quando não chegam ao pânico ou estão profundamente inibidos. Chemama afirma que “Realmente, a cada dia, vêm consultar no analista, pessoas que se queixam de um mal-estar difuso, de uma inapetência para viver, de uma impossibilidade de desejar e agir”.
O imediatismo contemporâneo e as respostas medicamentosas aos sintomas faz com que o sujeito se separe, não se implique com seus sintomas, além de que nosso contexto social não valoriza a história, o percurso e a família. Então, os medicamentos de modo excessivamente utilizados hoje, apaga ainda mais a história do sujeito. Como Jerusalinsky nomeou seu texto: “gotas e comprimidos para crianças sem história”. Ao viver no imediatismo do aqui e agora, o passado é apagado e o futuro não é imaginado ou construído. Chemama nos diz que “na depressão, ali onde há história, não há sujeito e ali onde há sujeito não há história”. Talvez poderia acrescentar as patologias de nosso tempo, porque a inibição, depressão e pânico são as respostas que o sujeito consegue dar a esse imperativo de gozo desenfreado do contexto atual.
Um rapaz que chegou para atendimento após uma passagem ao ato, a qual ele tentou por diferentes formas acabar com sua própria vida. Ele chega dizendo que não sabe porque fez isso, que jamais imaginou que poderia fazer algo assim. Ele não sabe o que aconteceu com ele e quer saber o porquê fez isso. Quando consegue falar algo para além disso, o que ele repetia muito, afirma que já tomava medicamentos para dormir até três dias seguidos, usou drogas durante um tempo e descreve-se como uma pessoa agitada demais e que já há algum tempo não consegue se apaixonar, ou gostar de alguém. Durante muitas sessões, é isso que ele afirma e reafirma, além de falar que sua vida até então era normal, ou seja, até essa passagem ao ato não havia nada diferente. Ele traz algumas situações do seu passado, mas não acha que sentia angústia ou mal-estar pelo que ele estava vivendo, ele simplesmente vivia dia após dia rodeado de pessoas, saia todas as noites e quando não queria sair, trancava-se no quarto e dormia medicado, o que poderia se estender por dias.
Ele demonstra a ausência de enunciação, do sujeito que fala para não dizer e da exclusão do sujeito, quem ele é ou era, o que ele queria, demonstrando um apagamento ora numa enorme agitação, hiperatividade, no trabalho e nas festas com outras pessoas ora na total inércia dormindo. Ele se espanta quando aponto que isso é um sinal de que as coisas não iam bem. Algo começou a cutucá-lo mas ele ainda não se historiciza para compreender a sua singularização e suas escolhas, mesmo quando questionado tentando aprofundar o seu discurso e seu mito.
Chemama destaca em seu livro sobre depressão, que “ele (o depressivo) não se implica subjetivamente no que declara… não permite qualquer instalação de uma história, ou pelo menos de uma história que seria verdadeiramente a sua”. Parece que esse é o mecanismo desse rapaz, não se implicar com o que sente, com o que escolheu, com o que lhe acontece diariamente.
Melman nos fala da substituição da neurose pela depressão e sobre o contexto social e o desejo:
É claro que a intemperança atual repete a morte do pai, mas ao preço de um sacrifício do desejo, transformado em simples necessidade corporal, pois o desejo só pode entreter-se por uma busca, objetiva (o que é que eu quero?) bem como espiritual (quem é este “eu” que quer?), que está atualmente sufocado pela promoção de produtos farmacológicos ou tecnológicos, suscetíveis de conduzir a uma satisfação que vai até, por saturação, ao esvanecimento do sujeito.
Voltando na paráfrase de Lebrun: o homem que chegava a Freud trazia a queixa de não saber orientar o seu desejo, mas hoje “o homem não sabe mais o que é desejar”. O homem contemporâneo sabe o que é consumir e parece ter sido engolido pelo consumo e pelo gozo – fica separado do que lhe permite sustentar o desejo. Ele se protege da subjetivação, da qual tem medo e vive sem pagar o preço dela. Assim, ele não se engaja verdadeiramente e não sabe que não se engaja.
Mario Fleig afirma que “Essas novas patologias se organizam em torno de um eixo: a progressiva desimplicação subjetiva do indivíduo moderno, que se estende desde as formas de anonimato até os modos de desresponsabilização do social e de si mesmo”
Depressão, pânico e inibição parecem ser os sintomas que respondem a demandas sociais exageradas para sujeitos fragilizados e desamparados simbolicamente.
Sobre a inibição, Chemama afirma que é a consequência da sexualização, porque toda ação pode adquirir um sentido sexual, pode metaforizar o desejo e instalar o gozo fálico. A sexualidade remete a diferença sexual e essa diferença está perturbada, então encontra aval da impotência ou inibição generalizada. Não poder se haver com o mal-estar inerente ao sujeito que causa angústia é justamente o que traz como resposta a inibição, então estamos diante de sujeitos mais inibidos e desencorajados. Com muitos sintomas, sem questionamentos e sem história.
Angela Valore esclarece que há um aumento da inibição, o que potencializa o acting out ou a passagem ao ato. Justamente porque a inibição joga entre o amordaçamento, a paralisia do ato nenhum, e o acting out como uma tentativa de sair dela.
A frase do Tenório, citada em um evento, “desmedicalizar a demanda e subjetivar a queixa do paciente” diz do nosso papel enquanto analistas, pois a psicanálise possibilita o sujeito construir seu mito, singularizar a sua história e possibilita o encontro de uma continuidade entre passado, presente e futuro. Ela tenta dar um lugar diferenciado ao sujeito, um lugar ético, um lugar de desejante. Ao compreender-se parte de uma história em que há uma família que nos referencie, pois nossa constituição baseia-se na filiação, na sexuação e na identificação, dos quais podemos nos apropriar dos ideais que podem instaurar o desejo, mas que não nos obriga a realizar seus ideais, porque ai entra as escolhas de cada um. A prática do analista, sustentada na ética do desejo, busca a mudança na economia de gozo e como nos diz Chemama “a cura consiste, por fim, nesse encontro pulsátil entre gozo e desejo, que dá a cada um de nós, o estilo mesmo de sua existência”.
Angela Valore fala da possibilidade da análise fazer o sujeito gozar sem sofrer, mudar sua economia de gozo para que em consonância ao desejo o sujeito possa gozar e produzir com a liberdade que lhe é possível. Bem na contramão do discurso social, onde não há limites e o gozo é buscado a qualquer custo. Não podemos ser pessimistas e achar que tudo em nosso contexto é ruim. Claro que uma dose de liberdade e autonomia pode ser muito boa e saudável. Mas significa que dentro desse desamparo simbólico e histórico, o sujeito precisa se esforçar muito mais para encontrar um lugar interessante, como nos diz Angela Valore, que lhe permita gozar e produzir para morrer menos idiota.
Referência
BAUMAN, Z. A arte da vida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.
CHEMAMA, R. Depressão, a grande neurose contemporânea. Porto Alegre: CMC, 2007.
DUFOUR, D. A arte de Reduzir as mentes. In: Le Monde Diplomatique. Outubro de 2003.
FLEIG, M. O desejo Perverso. Porto Alegre: CMC, 2008.
FREUD, S. O mal-estar na civilização (1930) In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: Edição standard brasileira. v. XXI. Rio de Janeiro: Imago, 2006.
JERUSALINSKY, J. Gotinhas e comprimidos para crianças sem história. Uma psicopatologia pós-moderna para a infância. In: ____. e FENDRIK, Silvia. (orgs) O livro negro da psicopatologia contemporânea. São Paulo: Via Lettera, 2011. p. 231-242.
LEBRUN, J. O mal-estar na Subjetivação. Porto Alegre: CMC, 2010.
MELMAN, C. Uma nova economia psíquica. 2006. Disponível em <http://www.janehaddad.com.br/new/entrevistas-indicadas/193-entrevista-com-charles-melman-uma-nova-economia-psiquica >
VALORE, A. Morrer menos idiota. Texto retirado do site da Associação Letra de Psicanálise em 2016.
* Texto apresentado em um debate aberto ao público no dia 10 de outubro de 2017 em Maringá.